Diretora de Sustentabilidade e Inovação da Ecoalf
A Fundação Ecoalf criou o projeto Upcycling the Oceans, que tem como objetivo recolher o lixo do fundo do mar. A Ecoembes juntou-se a esta proposta em 2015 e, desde então, já foram recolhidas 200 toneladas de lixo apenas na costa espanhola.
Se algum dos leitores deste artigo teve algum dia a estranha ideia de se vestir com o lixo que tinha encontrado no mar, não lhe faltaria material: duas garrafas de plástico aqui, umas latas de conservas ali, talvez uma sanita com uns retoques… Sem dúvida alguma, o aspeto seria de um qualquer mamarracho a caminho do Carnaval ou de um figurante saído de uma versão “low cost” de “Mad Max” ou de qualquer outro filme de ficção apocalíptica. Isto porque, obviamente, o que se encontra no mar é lixo, mas também porque o lixo nunca esteve na moda… Até agora. É que alguém que leve às costas uma mochila feita de resíduos retirados do mar e que seja uma estrela de Hollywood como a Gwyneth Paltrow, ou se alguém veste uma coleção criada com lixo e for uma estrela de futebol como a equipa do Desportivo da Corunha, as coisas mudam bastante. Obviamente, para chegar a esse nível, é preciso superar alguns obstáculos e ter bem claro que é possível encontrar um equilíbrio entre o compromisso com o meio ambiente e as apostas comerciais.
O principal responsável desta aposta é Javier Goyeneche, fundador da Ecoalf, uma empresa nascida em 2009 para oferecer roupa e acessórios fabricados com produtos de resíduos recolhidos no mar. Trata-se de uma aposta coerente perante um estilo de vida que continua a defender um consumo irresponsável e suicida, em que o plástico descartável (um material que leva centenas de anos a desaparecer) continua a ganhar terreno, apesar dos esforços cada vez maiores para acabar com o mesmo. O próprio Goyeneche explica no seu site da marca que, a sua ideia surgiu da frustração “pela utilização excessiva dos recursos naturais do mundo e da quantidade de resíduos produzidos pelos países industrializados. O objetivo era fabricar a primeira geração de artigos de moda feitos com materiais reciclados da mesma qualidade, desenho e propriedades técnicas que os melhores produtos não reciclados, demonstrando que não é necessário continuar a abusar dos recursos naturais do planeta indiscriminadamente”.
Por detrás da Ecoalf, existe um grande processo de investigação para conseguir os tecidos reciclados. Assim, as redes de pesca ou as garrafas de plástico servem para fabricar fio de nylon, as cápsulas de café trazem aos tecidos as qualidades de resistência aos raios UV, entre outras, e os pneus oferecem solas para os chinelos. Como a energia, nada se destrói, tudo se transforma para ganhar uma nova vida. Carol Blázquez, diretora de sustentabilidade e inovação da Ecoalf, assegura que “pode-se andar bem vestido a partir de resíduos” e que, o que procuram é “demonstrar que é possível fazer as coisas de uma maneira melhor, muito mais respeitosa com o planeta e com as pessoas”.
Para atenuar este problema, a Fundação Ecoalf criou o projeto Upcycling the Oceans, que tem como objetivo recolher o lixo do fundo do mar. A Ecoembes juntou-se a esta proposta em 2015 e, desde então, já foram recolhidas 200 toneladas apenas na costa espanhola. Os melhores aliados deste projeto são os pescadores, que são os que mais sofrem diariamente com todo este lixo que atiramos para o mar. São eles que recolhem os plásticos e outros produtos, que os reciclam em contentores instalados nos portos, que são depois enviados para serem transformados em roupa e acessórios. Uma aliança que procura gravar no cérebro e no coração do maior número de pessoas possível, o lema que estamparam nas suas t-shirts: “Because there is no Planet B”. Não temos outro planeta.
Entrevista e edição: Noelia Núñez | Cristina López
Texto: José L. Álvarez Cedena
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