Fundador da Precious Plastic
Há um par de anos, o paleobiólogo Jan Zalasiewicz da Universidade de Leicester publicou um estudo onde enunciava uma tese revolucionária: afirmava que o plástico era a prova evidente que a Terra já tinha entrado no Antropoceno, uma nova era geológica (assim batizada pelo Prémio Nobel da Química Paul Crutzen) em que o comportamento humano condiciona inevitavelmente o funcionamento do planeta.
De acordo com a Greenpeace, desde que na década de 50 se começaram a fabricar plásticos industrialmente, já produzimos mais de 8.000 milhões de toneladas. Se todo esse plástico fosse uma película aderente transparente, haveria o suficiente para envolver a Terra. A imagem deveria ser suficientemente poderosa (e desagradável) para nos fazer reconsiderar, mas a tendência – de momento - não aponta que vá ser assim. Na verdade, acredita-se que até 2050 alcançaremos os 34.000 milhões de toneladas, dos quais apenas 9% serão reciclados e quase 80%, no melhor dos casos, ficará acumulado em aterros sanitários. Para onde quer que olhemos, há plástico. Faz parte igualmente das paisagens urbanas ou rurais. Está nas casas das cidades europeias, mas também nas cabanas da mais remota tribo amazónica. Há plástico, até, a meio do Oceano Pacífico, na chamada "grande ilha do lixo", que nada mais é do que uma gigantesca acumulação de resíduos de plástico. E há também nos estômagos de várias espécies de peixes e aves marinhas. Cientistas suecos asseguram num estudo recente que alguns desses animais se tornaram viciados em plástico. Os números, é claro, são esmagadores. Temos um problema. Um problema muito grande. Por isso, qualquer proposta que apareça para o solucionar, da mais modesta à mais ambiciosa, deve ser levada em conta. No caso de Dave Hakkens, designer holandês e fundador da Precious Plastic, uma comunidade de utilizadores presente em todo o mundo cujo objetivo é "lutar contra a contaminação dos plásticos", afirmam na sua página na web que também são "pobres, mas livres". A filosofia da Precious Plastic está expressa no seu manifesto: "O plástico está feito para durar para sempre, mas desenhado para ser usado apenas alguns minutos. Um incrível desperdício de potencial. Consideramos o plástico um material muito valioso". Mas para lhe dar esse valor é necessário prolongar-lhe a sua vida útil e na Precious Plastic fazem-no seguindo as premissas do movimento DIY (faça-você-mesmo); a comunidade ajuda todos os que querem construir a sua própria fábrica de reciclagem em casa, criando ao mesmo tempo redes locais de partilha de conhecimento e colaboração. Hakkens acredita que na era da informação todos estão conscientes de que há um problema com o plástico e está confiante de que "pessoas normais, pessoas como eu, se porão em marcha e começarão a fazer algo para resolver o problema."
Entrevista e edição: Pedro García Campos, Noelia Nunez, Mikel Aguirrezabalaga
Texto: José L. Álvarez Cedena
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